sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Encerrando as atividades

Depois de muito tempo sem postar resolvi comparecer para informar que me aposentei na náutica...

A dificuldade de locomoção cada vez maior, com a artrose nos dois joelhos, é uma barreira importante. Por outro lado, a falta de "destinos" e de uma turma de velejadores no Ceará também complicam a situação... Embora em more em frente de onde o barco fica (de minha rede, no quarto vejo o barco ancorado) o esforço de sair apenas para dar umas voltinhas não está compensando.

Durante os últimos anos eu mantive uma atividade na capacitação prática para habilitação de ARRAIS e MOTONAUTAS, atuando numa entidade credenciada pela Marinha. Foi muito interessante porque a clientela é a mais variada possível: há pescadores de fim de semana, que querem se regularizar, há donos de lanchas e jet, que querem usar seus brinquedinhos novos e há os sonhadores, que querem aprender sobre o mar porque um dia vão morar num veleiro e navegar nos sete mares.

Foi bom enquanto durou mas essa semana encerrei mais esse capítulo de minha vida náutica.

Agradeço muito a todos que leram esse blog.

Abraço e bons ventos. 

domingo, 26 de abril de 2015

O veleiro "Rabugento"

O veleiro "Rabugento" (Marreco 16) foi o meu primeiro veleiro "de quilha" e com ele comecei a velejar no lago Paranoá, em Brasília. Ele foi comprado em sociedade com um amigo que, depois que passei a morar em Fortaleza, ficou com a minha parte do barco. Agora, recomprei o  Rabugento, com a intenção de incentivar meu filho que mora em Brasília a velejar e aproveitar com sua família as delícias do Paranoá, o que não fizemos quando ele era criança.

Veleiro Rabugento
O barco estava a muitos anos sem ser usado e deu trabalho coloca-lo na água novamente. O principal problema foi a carreta, que estava com pneus ressecados, rolamento travado e deformando o casco, por causa dos suportes mal feitos.










O motor de popa (Tohatsu 5hp) funcionou na bancada mas, quando coloquei no barco, não sustentava a marcha lenta e levei na oficina pra limpeza de carburador. A bateria do barco, por incrível que pareça, ainda tinha alguma carga, mesmo parada por muitos anos. Coloquei no carro pra completar a carga e no outro dia estava pronta pra uso. Com isso, decidi usar apenas o motor elétrico (Rhino 55 lbs), que funcionou lindamente. A autonomia do motor elétrico é pequena ( 1 hora) e o deslocamento lento (2 nós) mas o fato de nunca ter problema de partida ou marcha lenta compensam isso.

Fiz um pequeno reparo na fibra, no local onde um cunho com parafusos folgados foi arrancado e instalei uma forquilha na popa pra usar com o remo chinês (Yuloh) que construí pra não precisar de motor.

Usei o remo pela primeira vez e, mesmo sem nenhuma experiência no assunto e tendo feito o remo "de cabeça", o resultado foi excelente. Consegui deslocar o barco com alguma velocidade e mantendo linha reta. Havia uma regata em preparação e um dos barcos veio arrodear o Rabugento pra ver de perto o remo pela popa, novidade no Paranoá. Perguntaram se eu estava fazendo muita ginástica e respondi que não... fazendo pose e remando só com a ponta dos dedos.

Yuloh do Rabugento
É impressionante como um veleiro resiste bem ao tempo, na água doce ou longe do mar. Foi só levantar as velas e o barco saiu como se tivesse parado na véspera.

Quem mudou muito com o tempo foi eu !!! Foi interessante me deparar com várias situações que já tinha vivido anos antes, no mesmo barco e no mesmo local e adotar ações diferentes.

Aprendi muito mas ainda sei pouco.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Novo sistema de leme

Amanhã, vou completar a instalação do novo sistema de leme. As principais mudanças em relação ao sistema original foram as seguintes:
  • Cabeça do leme em tecnil (nylon)
    • material imune às cracas que atacaram a madeira do antigo leme
    • mais fácil de trabalhar (ao menos pra mim) do que madeira
    • belo acabamento natural (não precisa nem pintar)
  • Novo sistema de acoplamento ao barco, com parafusos de inox curvados em 90 graus
    • eliminação de soldas, ponto fraco do sistema original
    • facilidade de colocação e retirada, sem pinos, porcas, contrapinos, etc.
    • trava de leme tipo Optmist
  • Possibilidade de recolher a pá em 180 graus
    • maior proteção contra impactos de ondas no encalhe na praia e de outros barcos
    • mais facilidade de transporte e acomodação do leme fora do barco
  • Cana de leme em fibra de vidro
    • possibilidade de copiar fielmente a cana antiga e manter o alinhamento com o mesmo barral
    • maior resistência do que madeira
O projeto deu bastante trabalho porque um erro poderia deixar o sistema pesado ou ineficiente e as variáveis são muitas. Fiquei muito satisfeito com o resultado.






sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Você e o barco

O relacionamento com um barco é complicado. Para que a coisa fique equilibrada, criei, ao longo do tempo, algumas regras, que compartilho:
  • Você é quem manda no barco e não o contrário, como pode parecer
    (ele sempre quer toda atenção e carinho e tenta nos dominar)
  • Não existe barco perfeito !!! É besteira tentar chegar à perfeição
  • Dar uma melhoradinha no barco dá, as vezes, mais prazer do que a velejada em si
    (melhorar sempre)
  • O maior problema pra melhorar um barco é achar quem faça o trabalho. O melhor é fazer você mesmo. Eu acho que quem aprende está vivo e quem ensina é eterno
  • Toda vez que vou ao barco reservo alguns minutos pra ele (regular, consertar, modificar) mas a maior parte do tempo é pra mim. Nunca tentar fazer tudo ou muita coisa de uma só vez
  • Um barco perdoa muito!!! Se você errou, dê um jeitinho não perca o passeio e conserte depois.
  • Motor de popa precisa mais de psicólogo do que de mecânico. Tem que se pegar o jeito e as manias dele... 
  • Limpeza de carburador resolve 99% dos defeitos e pode ser feita em 15 minutos.
    Secar a gasolina do carburador é fundamental.
  • Deus não conta o tempo que se passa velejando. APROVEITE!!!
  • A velejada não precisa ser distante nem demorada. Um lancheiro se diverte no destino e o velejador se diverte no caminho. Basta o veleiro estar se mexendo que o prazer é garantido
  • E por aí vai...


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Prazer ou obrigação ?

Hoje, acordei com o Chaposo me chamando pra velejar.

O nascer do sol foi espetacular e uma camada de nuvens já estava preparada pra proteger do sol mais forte. O vento estava brando e o mar azul... Ou seria verde ?


Morar em frente ao barco dá nisso !!! Tenho obrigação de aproveitar quando as condições são tão perfeitas.  Lá se foi a sessão de academia e a volta de bicicleta pra lubrificar a artrose.

Peguei o Chaposo e fomos botar a cara no mar alto, depois do paredão que protege o porto. Ali, as coisas não estavam tão calmas. Enrolei a vela da frente, fiz um jaibe e voltei pra tranquilidade da enseada do Mucuripe.

Fiquei variando as configurações das velas de proa, ora com as duas armadas ora com a mais perto do mastro, ora com a do gurupés. A velocidade não varia muito mas chega fácil aos 6.5 nós. Prum barco de 16 pés, tá bom.

Cumpri a obrigação de ter prazer !!!

 

sábado, 20 de setembro de 2014

De volta !!!

Depois de quase seis meses sem velejar e há muito mais tempo sem publicar, a motivação voltou!!!

Desempacotei o Chaposo, limpei o pouco lodo que se acumulou (viva a proteção com plástico preto!!!) e voltei a velejar. No início, um pouco receoso, porque barco parado é um perigo.

Logo a confiança voltou e fiz o passeio clássico:

  • ir nadando até o barco
  • descer na empopada até o espigão da praia de Iracema
  • voltar orçando até a ponta do paredão do porto
  • rumar pra poita num través glorioso

Fui testando o GPS do celular (Samsung 2710 waterproof) que levo pra pedir um eventual resgate, que nunca foi necessário. Fiquei deslumbrado com o desempenho do barco até que, em terra, verifiquei que a unidade de velocidade estava em "km/h" e não em "nós". De todo modo, foi uma excelente velejada.  

É legal, esse roteiro, porque permite configurações variadas com as velas e bolinas. No caminho, muitos cumprimentos aos pescadores das jangadas a remos, aos velejadores de wind, ao pessoal das escunas de passeio, enfim... não se pode reclamar de tédio ou solidão.

Na poita, assistir a um por do sol espetacular e mergulhar de volta pra casa.

Sou feliz !!!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Travessia "ladeira abaixo" na costa cearense

Nesse fim de semana, fui levar o trimaran Aragem (searunner 34') até Camocim (CE) depois que desistimos de participar da REFENO, pela dificuldade de chegar a Recife a tempo. Comigo, foram o Alex, pescador e marinheiro profissional, companheiro de várias travessias, e dois colegas dele, alunos do curso de Moço de Convés sem qualquer experiência no mar.

Combinamos a saída para depois da meia-noite da sexta-feira porque, apesar de não acreditar em superstições, penso que devemos respeitá-las, e nunca se deve iniciar uma viagem numa sexta-feira. O Alex dormiu no barco e cuidou das providências corriqueiras de limpeza, arrumação e verificação geral. Quando embarquei, já no sábado, levamos os estais volantes até os cunhos de popa para apoiar o mastro pra trás já que a velejada seria todo tempo com muito vento de alheta/popa. A âncora de popa estava enganchada numa rede de pesca que, quando foi desembaraçada, nos deixou com uns 10 carapebas fresquinhos pro almoço.

Partimos às 02:30, apenas com a vela de proa e o barco andando bem, a 6 nós de média. Quando o sol nasceu, subimos o grande e, com tudo em cima e um vento de 15/18 nós soprando de alheta, passamos o dia surfando nas ondas de 1,5/2,0 m, num mar prateado pela lua quase cheia.

Quando anoiteceu, o vento aumentou. Baixamos o grande, demos alguma voltas no enrolador para "rizar" a genoa e começamos um "voo cego" com muita emoção e adrenalina. Sem qualquer referência no mar para orientar o timoneiro o único recurso era a bússola de bordo, para seguir para os waypoints programados. A faixa de navegação possível era de pouco mais de 20 graus. Caso o rumo ultrapassasse esse limite para bombordo, as ondas começavam a pegar o barco de lado e a inclinação ficava preocupante. Se a mudança de rumo fosse pra boreste, a vela aquartelava e era difícil voltar a arma-la corretamente, com risco de uma entortada feia com consequências imprevisíveis.

O mar raso (13/15 metros) e o vento forte faziam as cristas das ondas quebrarem com frequência e era assustador ouvir o chiado da água se aproximando do barco pela popa. Seguir apenas a bússola como referência primária foi difícil. Com o cansaço, o timoneiro muitas vezes meio que "desliga" e quando o barco alerta sobre uma mudança de rumo, passam-se alguns segundos antes que o cérebro entenda a situação, interprete os números da bússola e comande os braços pra fazer os movimentos corretivos necessários e muitas vezes mentalizados "girar a roda pra direita vai levar os números da bússola também pra direita e não devo passar do número 270". É uma situação parecida com aquela quando se olha pra um relógio digital e não se entende direito o que aqueles números significam. Precisa haver um raciocínio, para a compreensão. (eu prefiro canas de leme a rodas de leme e relógios analógicos a relógios digitais)      

Quando a lua nasceu, a situação melhorou um pouco porque o mar se tornou visível. Seguimos nesse ritmo, com o vento sem dar trégua e, lá pelas duas da manhã, manter o barco no novo rumo (levemente mais a bombordo) estava ficando complicado. Jaibeamos a genoa, ainda levemente enrolada, e ligamos o motor, o que ajudou muito no governo do barco. A velocidade se manteve na faixa dos 6/7 nós, propiciada apenas pelo vento, até o sol nascer.

Chegamos na barra de Camocim às 07:30, fizemos uma entrada tranquila e entregamos o Aragem ao dono, para a próxima perna até Luis Correia.