terça-feira, 23 de outubro de 2012

Noivado a bordo

Durante umas duas semanas, vários agentes de viagem me procuraram querendo contratar um charter para um casal de turistas que queria noivar a bordo de um barco. Eu recusei os pedidos porque, como tenho que dividir o ganho com o novo dono do barco e ainda pagar marinheiro e despesas, sobra muito pouco e não vale a pena. Se cobrar mais caro, os clientes desistem.

Já tinha esquecido do assunto, quando recebi um mail do próprio interessado, que me descobriu em algum anúncio na internet. Numa primeira resposta, recusei gentilmente, mas, como o assunto ficou remoendo em minha cabeça, resolvi aceitar, já que se tratava de uma causa nobre. Além do mais, o passeio seria numa segunda-feira, dia normalmente "morto". O interessado não regateou o preço e ainda pediu adicionais... uma garrafa de champanhe e um buquê de flores.

Como houve um desencontro no pagamento do valor de reserva, mandei uma mensagem ao noivo, informando que o passeio estaria cancelado se o depósito não fosse feito a tempo. Logo cedo, na manhã da segunda-feira, ele veio me entregar pessoalmente, em espécie, todo o valor contratado. Foi pessoalmente ao supermercado comprar a champanhe e as taças, sempre "a pé". Deve ter andado uns 10 km. Eu não pude nem oferecer ajuda ou carona porque estava puxando o Chaposinho para a terra, onde vai ser pintado.

No início da tarde, eu pedi emprestado o carro da minha mulher, que é melhor que meu Vitarinha 97, pra poder trazer os noivos em grande estilo do hotel ao ponto de embarque. Como havia marcado de pegar os noivos às 15:15 hs, havia tempo de sobra para comprar o tal buquê de flores. Acontece que, na hora da saída, o marinheiro me ligou achando que a gasolina a bordo era pouca. Como eu havia decidido que seria um passeio "sem emoção" isso me preocupou, porque o planejado seria usar motor todo o tempo.

Imediatamente, me veio à cabeça a reclamação da minha mulher com eventual cheiro de gasolina no carro mas, como não tinha jeito, procurei o tambor que usa pra gasolina mas o bicho simplesmente sumiu. O jeito era comprar outro na avenida do lado. Que nada !!! Era dia dos comerciários e todas as lojas estavam fechadas. Já meio preocupado, liguei para o marinheiro trazer o próprio tanque pra terra e quando o coloquei no carro, vi que estava ainda pela metade, o que daria de sobra para o trajeto planejado. Mesmo assim, resolvi arriscar levar uma bronca da esposa e fui completar o tanque e comprar gelo. Com esses imprevistos, o tempo passou rápido e não tive tempo de procurar um florista pra comprar o buquê encomendado pois o florista que ficava no caminho pro hotel estava também fechado pro dia dos comerciários.

Peguei o casal no hotel, embarcamos no Tranquilo e saímos descendo a favor do vento, só com a vela da frente aberta. Aqui não há muitas áreas sem ondas mas eu tentei "balançar" o mínimo possível, pra não incomodar os namorados. À medida em fomos saindo da área protegida pelo porto a ondulação começou a ficar um pouco mais forte e, passados uns 40 minutos, o noivo apresentou o primeiro sinal de enjôo e começou a ficar pálido. Imediatamente recolhi a vela, liguei o motor e rumei de volta para a área mais abrigada.

O combinado (secretamente) com o noivo era que o pedido de noivado seria feito exatamente ao pôr do sol, com o barco parado. Rumei para dentro do porto, tentando proteger ao máximo o noivo da tarefa de alimentar os peixes e sempre preocupado com a hora em que eu teria que novamente descer com o barco a favor do vento pois um pouco de cheiro de gasolina seria inevitável.

Deu tudo certo e, exatamente na hora em que o sol começou a se esconder atrás das serras do horizonte, paramos abrigados por um navio atracado no cais petroleiro. Dei o sinal ao noivo, que fez um belo discurso (me emocionei) e estourei o champagne, exatamente na hora em que vários HobieCats 16 do Iate Clube passarão por nós. Os velejadores não entenderam nada mas aplaudiram e sairam rindo.

Eu fiz um pequeno discurso informando que, como eu tinha a prerrogativa legal de celebrar casamentos a bordo, me sentia no direito de celebrar noivados também e desejei muitas felicidades ao casal. Encerrada a cerimônia, rumamos para a praia mas o noivo, que tinha resistido bravamente até então, iniciou longo diálogo com o Raul, consolado pela noiva.

Chegamos sem incidentes e o noivo generosamente ofereceu o resto do champanhe à tripulação. Recusei mas fiz a besteira de deixar a bebida a bordo. Durante a noite, o Raimundinho bebeu todo, se animou, comprou mais cervejas na escuna de passeio, ficou bêbado 2 dias e passou um terceiro de ressaca, dormindo.

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