sexta-feira, 25 de maio de 2012

Trocando de barco


Recebi, hoje, o sinal pela venda do Chaposo. Vai para o Augusto, velejador aqui de Fortaleza, que vai usa-lo pra se preparar para uma viagem pelo mundo (obviamente em um barco maior) e para suas atividades de arqueologia marinha (pesquisa em naufrágios). 

O Chaposo foi muito importante para mim e contribuiu muito para desmistificar certos aspectos que inibiam o desenvolvimento da vela de esporte e recreio aqui do Ceará. Qualquer barco (que não de pesca) apoitado aqui na enseada do Mucuripe seria alvo de vândalos ou ladrões, não há destinos viáveis/agradáveis para um veleiro, as condições de mar e vento são muito duras, não há serviços de apoio para um barco de esporte e recreio,etc. eram alguns dos motivos alegados pelos pessimistas locais. 

O Chaposo, entretanto, tornou possível mostrar que nenhuma dessas barreiras era intransponível: 
  • O barco nunca sofreu nenhuma visita mal intencionada. O pior que aconteceu foi servir de plataforma de mergulho para a garotada, nos domingos de praia cheia. Bastou mudar o barco um pouco mais pra longe, que o problema acabou. O tratamento cortês que dou aos marinheiros vizinhos (apesar das brigas com o pessoal das escunas), o fato de morar bem em frente e ter uma câmera instalada na varanda foram importantes para criar um ambiente de proteção para o barco.
  • Fui com o Chaposo do Camocim ao Fortim ou seja, percorri quase toda a costa (500 km) do Ceará. Entrei na barra de Camocim, passei por Jericoacara, dormi em Acarau e Mundaú, passei férias no Morro Branco e subi o rio Jaguaribe. Há muitos destinos excelentes e o Chaposo me levou a vários deles.
  • Realmente, as condições de mar e vento são duras, a costa é toda de "mar aberto" mas não há obstáculos traiçoeiros e o vento é previsível e leal. Fui a mais de 40 km da costa, fiz várias pescarias "na risca" como se diz por aqui, e o barco nunca mostrou qualquer perigo.
  • Tive que aprender a fazer reparos na praia, planejando a encalhada nas marés certas e medindo o serviço pra terminar antes da água subir. Não há mão de obra especializada mas a lide com o mar está no sangue dos meus vizinhos de praia. O guardador de carros é excelente marinheiro e faz meus embarques zingando a batera com leme de voga. O torneiro/soldador do bairro é filho de pescador e entende bem das necessidades de um barco. O eletricista da banda de forró faz bicos nos barcos e é capaz de mergulhar fundo pra desenganchar uma âncora.
Me vendo lidar com o Chaposo, várias pessoas se aproximaram para falar de seus sonhos de um dia ter um barco e, aos poucos, esses sonhos estão se transformando em realidade.  O Chaposo mudou de dono, um aluno já comprou um Velamar 24 e anda com ele todos os fins de semana, tá pra chegar um BV 47 de um amigo que fez test-drive no meu barco, outro velejador que construiu um multichine 29 no Fortim está pra trazer o barco pra cá, enfim... as velas do Mucuripe vão se multiplicar.

Eu pretendo continuar a velejar por aqui, agora no "Chapinha". É um catamaran cearense, feito ao estilo do Manuel Português do Maranhão, menor do que o Chaposo. Todo artesanal, mede apenas 4,5 mas será suficiente para fazer pescarias por perto e dar umas velejadas aqui em frente. Velejadas maiores, a partir de agora, só como tripulante ou em barcos alugados.

Chapinha indo pra água

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