sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Esposa na água



      Ontem, me animei a pagar 125 dolares, pelo aluguel de um veleiro, pra navegar 3 horas na região do porto de Toronto, Canadá. Minha mulher, que não gosta de veleiros, concordou, com alguma relutância, em me acompanhar. Preenchi todos os formulários no escritório da marina, rubricando uns 50 itens daqueles onde a gente afirma que sabe tudo, conhece todas as leis e promete tudo o que eles querem. Recebi dois coletes salva-vidas e uma manicaca e um rapaz muito atencioso me mostrou o barco, um Harbour 20, anunciado como "estável, de cockpit aberto. Na pequena cabine tinha pirotécnicos, apito, um cabo de retinida e uma escada portátil de alumínio. O barco vem com um motor Honda pequeno, que pega sempre de primeira. Tem uma vela grande, cuja adriça é o mesmo cabo de amantilho e uma buja, entralhada no estai de proa com uns garrunchos tipo mosquetões, de bronze.       
  
      Vestimos os coletes e saímos devagarinho, no motor. O vento estava brando e esperei livrar bastante espaço do pier, pra poder começar a içar as velas. Quando estávamos safos, pedi a minha mulher que mantivesse o barco aproado ao vento enquanto eu subia a grande mas ela, sem prática, me pediu pra indicar um rumo. Passei um rumo adequado e fui pra frente, pra subir a vela. Levei algum tempo pra levar o punho até o topo do mastro porque o sistema de mordedores estava meio ruim e a adriça já bastante gasta.        
  
      Acontece que não me lembrei de soltar previamente a escota da grande e, de repente, não sei se por desvio no rumo ou por uma rondada do vento, o barco adernou violentamente e ficou com a cruzeta na água. Eu não tive dificuldades em me segurar, talvez pelo costume e também por estar no lado de barlavento. Minha esposa, que estava no leme, do outro lado, ficou com as costas praticamente na água e escorregou lentamente pra dentro do lago.
    
      PROBLEMÃO !!!!!!!!!!!!
      
      Como o motor ainda esta engrenado, enfiei o dedo no botão de parada, temendo que, com o desgoverno, o barco fosse pra cima da Beta. Em seguida, voltei pra junto do mastro, pra baixar a vela e começar a operação de retorno. Quando a vela chegou em baixo já havíamos nos distanciado uns 100 metros e aí eu ouvi um apelo calmo... "Amor... vem me buscar porque estou congelando" 
    
      Liguei o motor, que pegou de primeira e me aproximei com cautela porque achei que, na situação, o primeiro risco seria atropelar minha mulher e feri-la com o hélice. Fui cuidadoso demais e não consegui alcança-la. Religuei o motor, dei outra volta e, dessa vez, parei por barlavento. Com o motor desligado, o barco derivou lentamente pra náufraga e ela se segurou na borda.
  
      Aí começou outro problema... como voltar a bordo ? Não me lembrei da escada e tentei traze-la no braço mas, com medo de também cair na água, não consegui... Nisso, vai passando um botinho inflável, com um casal de meia idade a bordo... Balancei os braços pedindo ajuda e eles se aproximaram e encostaram. Com a ajuda da mulher, tentei mais uma vez içar a Beta pra bordo de nosso barco mas era impossível. Ela entrou então para o botinho e, de lá, veio pro veleiro.
   
      Com minha mulher tremendo de frio, começamos a voltar para o cais, quando o senhor que nos ajudou me lembrou de dar o meu casaco para aquece-la (nem disso nós nos lembramos). Fiz o sugerido e recomeçamos a voltar ao cais, o que levou uns 25 minutos. No caminho de volta o casal encontrou com uma lancha da polícia que estava passando e deve ter relatado o ocorrido. Os policiais se aproximaram de nosso barco e perguntaram se estava tudo ok. Respondi que sim mas, mesmo assim, eles nos acompanharam devagarinho até chegarmos na entrada do pier da marina. Ficamos morrendo de medo de termos que registrar ocorrência, responder inquéritos, etc., etc.
   
      



Chegamos bem ao cais e o moço que nos ajudou a arrumar o barco informou que a temperatura da água devia estar por volta de uns 16 graus. Minha mulher foi correndo pro apartamento em que estamos (bem em frente à marina), mergulhou na banheira com água quente, depois se enrolou toda em cobertores, edredons e casacos e passou umas duas horas pra se recuperar.
   
      Em suma.... quase uma tragédia. 
  
      PS Ainda fiquei com 2 horas de crédito na marina...


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