sábado, 19 de junho de 2010

Parte um amigo

Soube, ontem, que morreu o Rodrigo, marinheiro antigo do Clube de Regatas Guanabara, no Rio de Janeiro.

Marujo e velejador calejado, tinha, por alto, uns 15 anos só no mar. Já bem passado dos 70, subia no mastro, sempre que necessário, mas nunca confiava apenas nas minhas mãos pra segurar as adriças que o levantavam. Dizia que eram mãos de engenheiro e ele preferia mãos de marinheiro. 

Instalou muitos sistemas no meu barco, sempre com presteza e precisão. Ao apertar uma peça, sempre dava uma última conferida e dizia "doutor... não se pode dar chance ao azar"

Um dos mais preciosos ensinamentos dele me veio com uma ampla descrição dos vários paióis do barco. Dizia, com sua voz de barítono... "doutor... num barco, cada lugar tem seu nome e cada coisa... seu lugar".
Morava solitário, no primeiro "box" do Guanabara, onde tinha suas ferramentas. Na última vez em que estive com ele, antes de me mudar do Rio, estava triste, pelo cancer que atacava uma neta. Rodrigo morreu sozinho, vítima de um enfarte no meio da noite. 

Dizem que Deus não conta o tempo que se passa no mar. Se for assim, Rodrigo morreu jovem, já perto dos 80. Que descanse em paz... 

Lamento que não tenha vivido pra receber a bolada que o Lloyd lhe devia, objeto de longa e arrastada demanda na justiça.

Um comentário:

  1. Airton, eu conhecia o Rodrigo há mais de 30 anos. Um camarada por quem eu tinha muito apreço. Pessoa humilde, mas muito inteligente e vivido. Conheceu o mundo inteiro e tinha estórias interessantímas para contar. Não sabia da notícia.
    Saudações.
    Flavio Traiano

    ResponderExcluir