sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vento norte

Cada ancoragem tem seu vento perigoso. No Rio é o sudoeste, o famoso "sudoca", que, quando entra com uma frente fria, dura três dias e atormenta os velejadores. Aqui no Ceará é o vento norte, que tira o sossego na enseada do Mucuripe.

Soprando de um quadrante de onde não há nenhuma barreira de proteção, o vento, quando é forte, forma ondas grandes e torna irreconhecível a praia do Mucuripe. O problema é maior porque, de dezembro a março, quando costuma ocorrer, o vento norte pode soprar justo nas maiores marés do ano, num mar com um swell típico da época, mais acentuado.

Acostumados com a constância dos alíseos, os comandantes dos barcos maiores colocam ancoras na proa e na popa, alinhando com o vento. Quando ocorre a rondada para o vento norte, o mar cresce, pega os barcos de través e é um deus nos acuda. As âncoras arrastam, as amarras rompem e os barcos vão pra cima dos outros ou para a praia. A melhor estratégia, pra evitar os problemas, é levar o barco para o largo e deixa-lo rondar no ferro de viagem.

Houve um ano em que, segundo me contou o Kong (dono da escolinha de vela), morreu até gente... Um pescador que dormia em uma jangada acordou atarantado pela quebradeira e pulou desesperado na água, atrapalhado, talvez, pela cachaça da véspera. O barco já estava no raso, bateu a cabeça no fundo, quebrou o pescoço e morreu.

Vida dura !!!

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